#EstudodeCaso: entenda o caso Escola Base revisto em documentário

O Caso Escola Base é um clássico do jornalismo, estudado em cursos da área, país afora. Um exemplo de como não lidar com a informação obtida e divulgada a ponto de não checar a informação para que se tenha o furo jornalístico, que resumindo, é o famoso “dar a notícia primeiro”, uma prática recorrente em veículos de comunicação de todo o mundo, que aumenta com o crescimento do uso das mídias sociais. O famoso “primeiro noticia, depois checamos”, para ganhar audiência e sair na frente, não contando com maiores consequências, pode causar sérios danos à imagem de uma empresa, corporação, mas também ceifar vidas. Se não de forma física, socialmente, com as pessoas envolvidas linchadas e até condenadas por populares. 

Quando isso acontece, ainda que o exposto não seja verdade, fica difícil atingir toda a população que teve acesso à primeira versão – o que com as mídias sociais perdeu totalmente o controle, pois até que se consiga na justiça o apagamento do post, muitas pessoas já podem ter printado o conteúdo e o espalhado entre os seus contatos, inclusive em outras mídias sociais. 

O erro do jornalista 

O Caso da Escola Base, localizada no bairro da Aclimação, em São Paulo, em 1994, quando o jornalista Valmir Salaro, então da equipe do Jornal Nacional, da emissora Globo, noticiou em cadeia nacional um possível caso de abuso sexual de crianças neste ambiente, sem que checasse as informações, baseado em denúncias dos pais das crianças mexeu com a população brasileira, vindo à esta ao vivo e tendo seu conteúdo replicado em diferentes veículos de comunicação.  

À época, o delegado que recebeu o caso, também não investigou a fundo e o exame feito na criança atestou positivo para o caso de abuso sexual. Uma sequência de erros produzidos inicialmente pela não checagem das informações, que iniciaram pelo jornalista. 

Via de regra, quando uma possível notícia chega para um jornalista, o primeiro caminho é apurar os fatos, com as fontes envolvidas, pelo menos duas, que possam ter versões diferentes para a mesma história. Isto é feito por meio de um fluxo seguido pela redação de um veículo de comunicação, cuja ponta começa no repórter que teve o primeiro acesso à informação, mas continua dentro da redação, com as outras funções desempenhadas por outros jornalistas da equipe, como o chefe de redação, o pauteiro, o produtor, o diretor de redação, o diretor do veículo de comunicação. 

Conheça o caso 

Em março de 1994, os proprietários da Escola Base, Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada, a professora Paula Milhim e o esposo, o motorista Maurício Alvarenga, foram acusados injustamente de terem abusado sexualmente de crianças de quatro anos. Havia também queixas de que os quatro aproveitavam o horário escolar para levar os estudantes para motéis para serem filmados e fotografados, uma inverdade que gerou transtornos para os proprietários e funcionários da escola, que adoeceram profundamente ou morreram sem terem o dano reparado. A escola também sofreu depredações, bem como pichações, que se estenderam às casas dos possíveis acusados. 

Agora, a GloboPlay retoma o caso em documentário, “Escola Base – Um Repórter Enfrenta o Passado” disponível para assinantes desde a última semana de novembro deste ano. Os pais que denunciaram não fazem parte dele. Mas nele estão o jornalista Valmir Salaro, uma ex-funcionária da escola, o filho dos proprietários da escola. O documentário não busca julgar, mas apresentar os fatos, bem como ser também um momento de catarse, tanto para o jornalista como para as famílias, bem como de perguntas e perdão. Uma delas, em uma cena, pergunta ao jornalista: “Por que só agora?”, enquanto o profissional, até em entrevista antes do lançamento da obra, confessa que conviveu com este peso durante todo este tempo. 

“Escola Base – Um Repórter Enfrenta o Passado” com direção de ex-profissionais do Profissão Repórter, Eliane Scardovelli e Caio Cavechini, toca de fato em um ponto crucial e nas consequências que seu desdobramento pode ter. Além de danos morais, prejuízo da vida, arruinando-a. 

Não fazem parte da obra depoimentos do delegado Edélson Lemos, que acusava os dois casais da escola sem provas, até ser tirado do caso. Nem Lúcia Eiko Tanoue, a primeira mãe a acusar os proprietários da Escola Base. Nenhum dos dois quis participar do documentário, o que também aconteceu com o filho de Lúcia. Hoje, com cerca de 30 anos, o homem disse que não sabia do caso e que ao tomar conhecimento, sentiu-se envergonhado com a situação. 

As fake news