Crise de Imagem de Boris Johnson: o que aprender com ela
Na Era da Verdade, mentir coloca em xeque sua reputação e abala a confiança.
“Ou Boris não leu as regras, ou não entendeu, ou achava que as regras não se aplicavam para si”. Esta frase destruidora foi dita na Câmara dos Comuns por Thereza May, ex-primeira-ministra substituída por Boris Johnson. Responsável por fazer acontecer na prática o Brexit aprovado por 51,9% da população durante o governo de David Cameron, Boris Johnson foi eleito com ampla maioria dos conservadores ocupando 365 cadeiras das 650 possíveis. O jogo, que parecia fácil de se ganhar, foi sacudido por pênaltis que os ingleses não costumam perdoar: as mentiras. Ética é uma palavra extremamente séria na cultura britânica, no qual um deslize se torna um grande escândalo.
Para outras nações e culturas, incluindo a brasileira, a mentira dita por político é algo infelizmente terrivelmente perdoado e esquecido. Não há qualquer surpresa quando se vê políticos fazendo um discurso em uma direção e atitudes em outra. O “façam o que eu falo, mas não façam o que eu faço” é tão enraizado no meio político brasileiro que não ruboriza o autor ao ser flagrado em mentiras, nem causa estranheza à população em geral quando descobre uma mentira de seus representantes eleitos.
Quando Mentir é uma crise
Acontece que não há governo ruim para povo educado. E os britânicos são completamente obcecados por educação.
Na avenida de realizações que parecia ser o mandato do Tory, o partido conservador inglês foi confrontado também por um buraco chamado Pandemia do Covid-19. E como se viu, nenhum país estava preparado para uma crise dessas proporções.
No começo da pandemia, o primeiro-ministro britânico se posicionou alinhado ao então presidente norte americano Donald Trump, num lugar de negação ou de desdém sobre o tamanho do problema. Com o aumento de casos de contaminações, internações e mortes num sufocamento que o NHS – sistema público de saúde britânico – não estava preparado e não tinha condições de atender, Boris se viu obrigado a mudar de posição e aceitar que o problema tinha tomado proporções inimagináveis. Enquanto a vacina não tinha sido criada, a única solução parecia ser o lockdown.
Acontece que lockdown nos olhos dos outros é refresco.
Uma foto devastadora da rainha Elizabeth sentada sozinha na capela de São Jorge dentro do castelo de Windsor durante o funeral de seu marido príncipe Philip, mostrava uma monarca que governava pelo exemplo, já que o país se encontrava em pleno regime de restrições conhecido como lockdown. Enquanto isso, no centro da cidade no número 10 de Downing Street, sede do governo e residência oficial de Boris Johnson, uma festa acontecia regada a vinho.
Descoberto meses depois, o premiê se viu obrigado a pedir desculpas pessoalmente à rainha. Antes disso, ele já tinha explicado ao parlamento que uma festa da qual participou na mesma Downing Street em maio de 2020, achava que tivesse sido uma “reunião de trabalho”. As redes sociais não perdoaram, e um dos memes que mais se via no Twitter era uma foto de uma prateleira de vinhos num supermercado com a placa “material de escritório”.
Considerado como desrespeitoso e indecoroso pela população, o comportamento de Boris Johnson que negou o quanto pode ter participado das festas, pode levá-lo a perder o cargo, já que no sistema parlamentarista, a falta de apoio político e de decoro são motivos para troca do primeiro-ministro.
Agravamento da Crise de imagem
A situação se agrava quando quem pede a renúncia não é só o líder do Labour – opositor partido de centro-esquerda – Keir Starmer, que já classificou Boris como “hipócrita e mentiroso”; mas parte dos próprios Tories, base do governo, pede publicamente a renúncia, como forma de preservar sua tradição de seriedade.
Na Sky News, o jornalista Trevor Phillips foi às lágrimas durante uma entrevista com o conservador Oliver Downen sobre o Partygate, como ficou conhecido o episódio. Sua filha morreu isolada em casa em 2021, sem que a família pudesse participar.
Soma-se a isso o relato de outro parlamentar, Jim Shannon, que relatou a morte solitária de sua sogra.
Após negar, negar e negar, Boris teve que assumir diante de todas as evidências e diante do relatório parcial da investigadora Sue Gray que aponta “falha de liderança”, atos “difíceis de justificar” e “álcool em excesso”. E mentir, para a sociedade inglesa, é algo imperdoável. Falha de liderança é praticamente uma condenação.
E o que aprender com Boris Johnson?
1) Discurso e práticas condizentes
Praticar o que se diz pode ser um desafio quando o discurso não está enraizado. A discussão de normas e diretrizes precisa ser intensa até se tornar um hábito diário que reflita no seu comportamento. Ao contrário de Boris, a Rainha foi um exemplo e seguiu com coerência as normas para o funeral do seu marido, após 73 anos juntos. Mesmo sendo a maior autoridade do Reino Unido, não quebrou as regras para se beneficiar.
2) Princípios éticos e morais
A cultura da ética vem do maior líder da organização, que servirá de exemplo para seu subordinado e seguirá para os demais até tomar toda a organização. Ética é um tema que não pode ficar somente nos manuais e na intranet, ele precisa ser treinado, conversado e discutido para que ele fique enraizado na cultura organizacional. Afinal, certo e errado são relativos até você ter um parâmetro.
3) Não mentir
A partir do momento que há um problema explícito com provas, continuar negando é a pior estratégia de gerenciamento de crise. A frase é “Sim, errei” por mais polêmica e catastrófica que ela seja. Mapear os riscos no momento da crise é a melhor estratégia a ser tomada.
4) Gestão de Reputação
Plano de Reputação não cabe somente para organizações. Um executivo, ou melhor, qualquer profissional, precisa ter um plano próprio de gestão de reputação, que deve estar alinhado aos planos da organização. Afinal, princípios, ações e comportamentos devem ser condizentes.
5) Gestão de Risco e Gestão de Crise
Quando falamos de cuidar da reputação, mesmo pessoal, precisam-se considerar os riscos reputacionais que podem abalar sua marca. Quais são os riscos que podem afetar? Quais deles podem afetar a organização? Quais as medidas de prevenção, mitigação e contenção? Como monitorar e gatilhos que indicam uma crise? E se acontecer a crise, o que fazer e responder?
A melhor alternativa é sempre pensar e planejar antes de agir, calculando e mensurando riscos. Isso é estratégia, que evita escândalos de crise de imagem.
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