Eleições: o que esperar para o 2º turno?
O Brasil está polarizado desde 2018, com a vitória de Jair Messias Bolsonaro (PL) nas urnas, algo nunca antes visto na história do país em tempos de democracia. Ex-militar das Forças Armadas, o atual presidente e candidato à reeleição no segundo turno, teve um governo também marcado por escândalos, tal qual o PT. Com quatro anos no governo, ficou marcado por recessão econômica, inflação alta, subidas consideráveis no preço de combustíveis, greve de caminhoneiros, crises políticas entre seus ministros, com muita mudança de cadeira também entre essas pastas, extinção de ministérios importantes para o país, como o da Cultura, crises familiares, com desvio de dinheiro, desentendimentos ou gafes internacionais, como no caso do velório da rainha Elizabeth II, compra de imóveis e, por último e mais falado, o orçamento secreto que está sob sigilo de 100 anos, ou seja: não pode ser investigado. Atual trunfo lançado pela ex-candidata à presidência da república, Simone Tebet (MDB) para apoiar o ex-presidente Lula nas eleições e divulgado por ela em entrevistas a respeito.
Mesmo assim, os adeptos ao governo Bolsonaro cresceram consideravelmente, independente de classe, chegando à incoerência em relação às críticas de corrupção no governo de Lula (PT) e às pedaladas fiscais, assim nomeadas, que levaram ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.
Existem adeptos do governo Bolsonaro, em classes de trabalhadores autônomos, entregadores de fast food, vendedores de lanche em carrinho, tabuleiros, à profissionais liberais, com formação de nível superior, classe média e também classe rica do país.
A votação no 1º turno
Essa polarização se mostrou muito forte na votação para o 1º turno ocorrida no último dia 2, tendo como adversário o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que presidiu o país por oito anos consecutivos (2004-2012) e depois elegeu Dilma Rousseff para presidência. Esses lados, não tão binários assim do ponto de vista do eleitor, que se encontrou dividido também naquele momento, envolvido por uma raiva de uma herança corrupta de um partido e também por questões particulares, como a perda do emprego formal que nunca mais foi recuperado, puderam ser vistos e sentidos nas diferentes regiões do país, mas também em bairros de algumas cidades.
Rio de Janeiro, São Paulo e DF apoiaram o atual presidente em sua maioria, enquanto o estado de Minas Gerais estava dividido entre sua população do sul e do nordeste de seu próprio estado, levando em consideração as influências de cada uma dessas áreas. Enquanto o nordeste de Minas esteve mais voltado a influências nordestinas, até pela proximidade física da região nordeste do país, o sul de Minas tem atividades econômicas mais ligadas ao governo Bolsonaro, realidade que também foi vista em localidades da região centro-oeste do país, fortemente ligadas ao agronegócio.
Em Salvador, por exemplo, com a Bahia sendo o quarto maior colégio eleitoral do país, bairros como Itaigara, Caminho das Árvores e Pituba, tidos como de classe média, votaram mais em Bolsonaro. Porém, considerando Salvador inteira, que tem mais de três milhões de habitantes, Bolsonaro ganhou apenas em duas zonas eleitorais. Se falarmos do estado da Bahia, enquanto Lula teve mais de 60% dos votos, Bolsonaro teve mais de 25%, seguindo a tendência da região Nordeste de votação no candidato Lula. Esta é uma realidade que tem a ver fortemente com as políticas públicas realizadas por Lula na Bahia em seus últimos governos.
Tão forte a ponto de ter feito um ex-secretário de educação, Jerônimo Rodrigues, um desconhecido no meio político, nunca antes candidato, mas uma aposta do senador Jaques Wagner (PT), ex-ministro da Casa Civil (2015-2016), que desistiu da eleição para apoiar a candidatura de Lula à presidência da república e do atual governador da Bahia, Rui Costa, também do PT (eles claramente disseram em diversas entrevistas que “fariam (o nome de) Jerônimo” e assim foi feito) disputar o primeiro turno do governo da Bahia com ACM Neto, levando o pleito para o segundo turno.
Situação que foi ampliada com o envolvimento de ACM Neto em atos polêmicos, como sua autodeclaração como pardo no IBGE, causando questionamentos na população da Bahia, população com maior quantidade de negros no país, fazendo-o perder alguns votos, mas também resultado de um trabalho muito forte do PT junto a sindicatos de classes trabalhadores, principalmente da educação.
Governo Lula
Enquanto esteve no governo, Lula construiu, só na Bahia, cinco universidades públicas; várias unidades de institutos federais; criou o Fies – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior – em universidades e faculdades privadas, para muitos brasileiros a única forma de chegar ao nível superior, o Prouni – Programa Universidade para Todos –, programas de financiamento para pesquisa em nível de graduação, mestrado e doutorado em universidades públicas, inclusive na modalidade sanduíche, que é quando o aluno pode fazer parte da pesquisa de pós stricto sensu em outro país, sob orientação de um docente da instituição daquele país.
As bolsas de pesquisa no governo Lula se ampliaram nas universidades federais e projetos como o Reuni, Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni, foram criados, por meio do Decreto 6.096 de 24/04/2007. O Reuni tratou financeiramente de trazer mestrados, doutorados para instituições públicas federais como também da parte de alocação desses novos alunos em termos de construção de espaços físicos, de prédios, para abrigar esses novos centros. Caso do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade Professor Milton Santos, da Universidade Federal da Bahia, UFBA, e de outros que surgiram país afora com a proposta da multidisciplinaridade ou da interdisciplinaridade sendo trazida e discutida em linhas de pesquisa de mestrados e doutorados do país.
2º turno: Congresso, I.A e estratégias de marketing digital
No primeiro turno, Bolsonaro elegeu um congresso que, em caso de vitória do PT, haverá muita dificuldade de governo. Figuras conservadoras do governo bolsonarista, como a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do Brasil (2019-2022), Damares Alves (Republicanos), foi eleita; bem como o polêmico Ricardo Salles (PL), ex-ministro do meio ambiente (2019-2021), que a despeito de suas atitudes polêmicas à frente da pasta, teve mais votos que Marina Silva (Rede Sustentabilidade), ambientalista, historiadora, professora e psicopedagoga.
Muitos acordos vão precisar ser feitos para que o país possa ser governado de maneira a priorizar o cidadão brasileiro. Mas, enquanto isso não acontece, o que estamos vendo até agora e deve se manter até 30 de outubro são tentativas de convencimento e arrebanho de cada um dos lados. Estamos presenciando de estratégias de marketing, com utilização de inteligência artificial, I.A, automação (com manuseio de robôs) à utilização de fake news, notícias falsas utilizadas para enganar a população e amplamente divulgadas em aplicativos.
A este respeito devemos ressaltar que as autoridades judiciais do país estão atentas, criando desde publicidade em mídia aberta, a exemplo de TV’s e rádios, como também disponibilizando, no caso do TSE, esclarecimentos via aplicativos como whatsapp para evitar a propagação de fake news.
O que aguarda quem for eleito
Com toda essa polarização vivida pelo país, uma coisa é certa: a resposta a apelos sociais e à atual situação econômica do Brasil, ao investimento em universidades, educação de base feita pelos partidos e educação formal em escolas precisam ser feitas e pensadas rapidamente, bem como verbas para pesquisadores em universidades públicas federais e para a saúde.
Insatisfação tem levado a protestos. Em Salvador, esta semana, estudantes da UFBA foram às ruas contra o governo atual. Enquanto uns vão às ruas, outros eleitores fazem trabalhos de formiguinha, conquistando voto a voto, do amigo, do familiar, ou, em algumas instituições específicas, como no caso das igrejas evangélicas ou neopentecostais, que precisaram ao longo desse tempo, alimentar seus próprios fiéis, esquecidos pela base do PT.
Seja quem for o eleito no 2º turno para presidência da república, o desafio será grande. Inclusive para unir o país novamente, mas também para dar respostas rápidas às questões herdadas e vindouras, com planos de ação e gerenciamentos de crise bem feitos, com trabalho de base junto à sociedade e de investimento em segurança para, novamente, podermos ter paz para apoiar livremente quem desejarmos, sem medo de violência.
Conheça as campanhas do TSE:
O Tribunal Superior Eleitoral disponibilizou atendimento via whatsapp e também via sistema próprio para estas eleições.
Recebeu algum conteúdo suspeito sobre o processo eleitoral? Viu uma postagem com informações falsas sobre as urnas eletrônicas? Recebeu mensagem de conta suspeita de disparo em massa? Acione o Sistema de Alerta do TSE no link https://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2022/sistema-de-alerta
Ou acesse o whatsapp (61) 9 9637-1078 para checagem de informações, que podem ser texto, mídia ou link. Neste caso, se o conteúdo buscado ainda não tiver verificação, a informação será encaminhada para o grupo de checadores e você receberá uma notificação quando ela estiver disponível.