As vacinas contra a Covid-19 e o vírus mortal das fake news
Divulgar fake news sempre foi um grande perigo, porém, a situação se agrava quando a desinformação envolve pesquisas científicas e a produção de vacinas contra o coronavírus. Por isso, plataformas de mídia social se uniram para tentar frear uma avalanche de notícias falsas.
Os estragos que as fake news podem fazer em empresas, organizações, personalidades e figuras públicas nós já conhecemos. Crises de imagem, destruição de reputações e, na maioria dos casos, também enormes perdas e prejuízos financeiros.
E quando estas notícias falsas envolvem pesquisas científicas, mais especificamente as que se referem à produção de vacinas contra a Covid-19?
Durante toda a história, cientistas sempre tiveram que lidar com a desconfiança da população em suas descobertas inovadoras, mas com o advento das redes sociais, a disseminação de fake news acerca do tema foi ampliada, ganhou proporções colossais e pode até ameaçar os planos de vacinação contra a doença e a saúde mundial. Sim, isso não é algo exclusivo do Brasil.
Entre as principais fakes news que circulam sobre as vacinas estão:
- A vacina irá modificar o DNA dos seres humanos;
- A vacina contém na sua composição células de fetos abortados;
- As vacinas são parte de uma conspiração de Bill Gates para implantar microchips em seres humanos;
- A vacina causa infertilidade nas mulheres;
- Voluntários dos testes já morreram por terem se submetido ao uso das vacinas;
- Após se vacinar não será mais necessário tomar qualquer precaução para evitar o contágio.3
Plataformas sociais se unem contra a desinformação
Não faltam teorias da conspiração, desconfianças, sobretudo sobre a China, mentiras, boatos, rumores e outros argumentos confusos e até mesmo sem sentido divulgados a respeito da pandemia e das vacinas. Alguns até são a favor, mas um volume gigantesco é fervorosamente contrário à imunização. Tanto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) chamou este fenômeno de “infodemia”.
Em geral, a motivação para a disseminação deste tipo de conteúdo está relacionada a questões ideológicas, posicionamentos políticos (na maioria das vezes), religiosos, falta de conhecimento sobre o assunto ou apenas má fé.
Justamente para combater a doença da desinformação, uma iniciativa uniu Google, Facebook e Twitter. As plataformas vão trabalhar em conjunto com agências de checagem de notícias e órgãos governamentais do Reino Unido e do Canadá para estabelecer responsabilidades na luta contra as fake news sobre vacinas e formas de atuação que funcionem para todas as organizações.
O programa é organizado pela Full Fact, uma entidade que atua contra a desinformação. Este projeto também tem o apoio de agências de auditoria de fatos da Espanha, Argentina, Índia e África do Sul, e grupos como a International Fact-Checking Network.
Em comunicado, a Full Fact destacou as medidas individuais que são adotadas contra fake news e apontou que é preciso uma aplicação consistente com foco na transparência. A organização afirmou ainda que com a iminente liberação de uma vacina contra o novo coronavírus é importante se antecipar a uma onda de desinformação que possa desacreditar a medicina.
“Esse projeto é uma tentativa de aprender as lições de ondas anteriores de informações ruins, seja durante eleições ou pandemias, para ter certeza de que estamos prontos para conter a próxima crise antes que ela se desenrole”, afirmou a Full Fact. “Ao planejar antes que os eventos aconteçam e discutir os objetivos coletivos em diferentes tipos de organizações, todos podemos nos mover mais rápido para responder de maneira proporcional, eficaz e bem evidenciada”.
O Facebook informou que começará a remover posts com alegações falsas sobre vacinas. A medida também vale para o Instagram. Em outubro, após receber alertas de autoridades de saúde, a plataforma anunciou a proibição de anúncios com discurso antivacina. Já o Google passou a exibir alertas sobre vacinas contra Covid-19 no YouTube.
É bem verdade que a imunização é muito recente e pouco se sabe sobre suas reações e efeitos colaterais. Sempre existe algum tipo de risco, pois todo medicamento eficaz tem efeitos indesejados, mas o que se percebe neste primeiro momento é que o benefício compensa o (baixo) risco. Pelo menos essa é a visão inicial do órgão regulatório do Reino Unido, o MHRA (similar à Anvisa), que aprovou a vacina da Pfizer/BioNTech.
Agora nos resta torcer para que as vacinas (muitas ainda em fase final de testes), desenvolvidas em tempo recorde graças aos esforços da comunidade científica mundial, sejam realmente eficientes e aprovadas pelos órgãos de saúde competentes. Este é um ponto importante: a liberação dos imunizantes junto às agências reguladoras e de fiscalização.
No campo das informações, vale lembrar que pesquisar a origem das notícias sobre os medicamentos, de preferência em fontes confiáveis e oficiais, além de redobrar o cuidado na hora de “passar pra frente” este tipo de conteúdo são iniciativas que contribuem para a construção de um cenário mais confiável a respeito do tema.