#22 Um apoio às famílias de vítimas em acidentes aéreos, com Sandra Assali

Uma tragédia pode impactar muitas famílias e de diversas formas, mas cada pessoa enfrenta a situação, vive e transforma a sua história de uma forma particular.

Em participação ao podcast Gestão Sem crise, Sandra Assali, advogada, escritora, palestrante e presidente da ABRAPAVAA – Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos, fala do trabalho realizado pela associação em todo território nacional. 

Após perder o esposo no primeiro grande acidente aéreo da história da aviação brasileira em 1996, o voo 402 da TAM com destino ao Rio de Janeiro, Sandra vem dando suporte humanizado a familiares de vítimas de acidentes aéreos, o que soma mais de 200 acidentes por todo o Brasil da aviação regular, geral ou experimental.

Esta edição traz os principais pontos discutidos entre os profissionais para maior clareza e brevidade. Confira! 

Como começou a ABRAPAVAA? 

Sandra Assali – A ABRAPAVAA nasceu em maio de 1997, seis meses após o acidente da TAM, em 31 de outubro de 1996, com 99 vítimas fatais – 96 passageiros e tripulantes, e três pessoas atingidas em terra, no bairro Jabaquara, em São Paulo. Um dos passageiros era o meu marido, médico cardiologista. 

Na época do acidente, o Brasil não tinha referências de assistência às famílias  de vítimas de acidentes aéreos. Ficamos em mais de 80 viúvas jovens e mais de 100 órfãos menores sem nenhuma assistência. 

Todas as  mulheres estavam com as mesmas dificuldades, querendo acompanhar a investigação e obter mais informações. Estávamos revoltadas. Foi aí que começamos a nos conhecer, ligar uma para a outra e começamos a criar reuniões, cada vez na casa de uma mulher. 

Vivendo experiências semelhantes, nós, familiares, entendemos a necessidade de fundar uma “Associação Brasileira“ para orientar e dar apoio a familiares de vítimas de acidentes aéreos em todo Brasil. 

Quem é o seu público? Você faz um trabalho de educação com as organizações ou presta apoio a parentes e vítimas de acidentes? 

Sandra Assali – Antes éramos focados em acidentes aéreos. Quando eu falo em mais de 200 acidentes aéreos, ao longo de 26 anos trabalhamos com todos os tipos de acidentes da aviação, entre eles: helicópteros, militares e aviação executiva em todo Brasil. 

Hoje, eu oriento as pessoas com dicas simples e que podem evitar que tragédias se repitam. Por exemplo: quem embarcar em um táxi aéreo ou aeronaves da aviação executiva pode checar a matrícula do avião antes do voo, no portal da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e consultar o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) para obtenção da situação da aeronave.

Quais são as lições aprendidas ao atender mais de 200 acidentes pelo  Brasil? 

Sandra Assali – O que eu mais identifiquei no decorrer dos anos na aviação de modo geral, é a falta de planejamento para uma situação e prevenção para uma eventual crise. Não estamos livres de uma crise, mas se estivermos preparados para enfrentá-la, você consegue evoluir de forma satisfatória, principalmente na continuidade do seu negócio. 

O que você falaria para um gestor e como preparar a organização no momento de uma crise?

Sandra Assali – Seja humano! Eu já presenciei o pronunciamento de um CEO sobre determinada tragédia, que se colocou no lugar dos familiares e chegou a abraçar as pessoas desesperadas que estavam no local. 

Também presenciei outro profissional durante o pronunciamento, que viu a família chorando e desesperada, mas não se levantou do lugar e pediu para retirar a pessoa da sala. Cada vez mais, percebo a necessidade de preparar profissionais que ocupam esses cargos para olhar de forma humana para as pessoas e não trazer prejuízos para a imagem da empresa. 

O podcast completo pode ser conferido em nosso canal no Spotify. Na página da ABRAPAVAA é possível obter informações detalhadas, como lista de documentos necessários e dicas sobre segurança de voo

Sandra Assali escreveu o livro “Acidente Aéreo – O que todo familiar de vítima pode e deve saber”, lançado em março de 2021, para informar e orientar familiares de vítimas.