Diálogo com a comunidade como ponto de partida para fortalecer a reputação e evitar crises

Com o surgimento de novas demandas e maior pressão por transparência nos negócios, as empresas passam a adotar uma postura mais responsável em suas ações, buscando estabelecer relações positivas com todas as partes interessadas ou stakeholders. 

Por meio da ética e transparência, com uma gestão baseada em princípios e valores que estabelecem mecanismos de diálogo com seus diversos públicos, as empresas visam incorporar ao seu negócio as expectativas das partes interessadas ou impactadas pela sua atuação. 

E entre os públicos prioritários de uma organização está a comunidade em que ela está inserida. Embora extremamente relevante, é muito comum que esse público esteja entre os menos considerados na definição de estratégias para o negócio. 

Relacionamento com comunidades e ESG

A pandemia de Covid-19 explicitou um debate antigo, sobre as responsabilidades de uma empresa para com o meio ambiente e a comunidade em que atua. Conhecida pela sigla em inglês ESG (Environmental, Social and Governance), essa agenda reúne o tripé Ambiental, Social e de Governança da pauta da sustentabilidade.

Especialistas apontam que uma empresa que segue critérios claros da agenda ESG tende a correr menos riscos associados à sua imagem – o que, aos olhos de um investidor, pode significar tanto retorno financeiro como impacto positivo. 

Isso porque investidores que buscam atuar de acordo com os pilares do ESG observam as ações das empresas a partir de uma lente socioambiental e de governança para tomar decisões sobre seus aportes. 

Estratégia focada nos princípios do ESG

Para definir uma melhor estratégia de atuação focada nos princípios do ESG, uma organização deve, primeiramente, avaliar os impactos ambientais, sociais e econômicos gerados pelas suas atividades na região. Parte importante desse levantamento é entender as demandas da população do município e a percepção dessa comunidade em relação à empresa.

Ao estabelecer suas práticas de ESG junto às comunidades, a organização pode ser mais assertiva em sua tomada de decisão, no que diz respeito à priorização de investimentos, negociações de compensações ambientais e sociais, critérios para análise de vulnerabilidades e a melhor forma de se comunicar com as partes envolvidas. 

Nesse contexto, a análise de risco social passa a ser tão importante para o desenvolvimento de projetos quanto a do risco operacional. Por isso, sai na frente aquele que mantém diálogo permanente com a comunidade local onde se pretende investir.

Entendendo a importância do diálogo social

A gestão de relacionamento com comunidades, a partir da ótica do ESG, deve ser feita com envolvimento contínuo dos seus públicos de relacionamento. A percepção dos públicos sobre a atuação da empresa é fundamental para se planejar programas, intervenções e investimentos. 

Ouvir e compreender melhor as dinâmicas da região em que está instalada, seus potenciais e necessidades é o primeiro passo para que uma organização estabeleça um diálogo com a comunidade. Nesse processo de análise de risco social, pode-se conhecer e mapear gargalos, e a partir daí identificar oportunidades de atuação que sejam do interesse de todas as partes envolvidas: empresa, comunidade e funcionários.

Uma das estratégias utilizadas para construir esse relacionamento é o diálogo social, processo no qual atores sociais, econômicos, políticos, ou grupos sociais, legitimamente reconhecidos, se reúnem institucionalmente para compartilhar ideias, cooperar, buscar convergência de objetivos ou negociar assuntos de interesse comum. 

Apesar das frequentes tensões e dos diversos conflitos que permeiam muitas vezes o diálogo, este pode resultar no alinhamento de propósitos, na troca de informações, assim como pode proceder em acordos ou projetos compartilhados, fortalecendo a governança democrática e a sustentabilidade das instituições envolvidas. 

Ou seja, o diálogo é essencial para que se estabeleça uma relação de confiança, que permita realizar um projeto com a comunidade, não apenas para a comunidade. O diálogo social propicia, ainda, uma agenda positiva para os momentos de crise, já que tem como pano de fundo as questões da transparência e respeito.

Conhecer e entender as organizações comunitárias, além de mapear quais são as principais lideranças locais, também é parte da construção desses processos de diálogo com as comunidades. 

São essas lideranças os responsáveis por fazer a interface entre empresa e comunidade, levando informações e trazendo demandas. Esse levantamento ajuda a traçar uma estratégia de relacionamento com esses públicos e também pode orientar no planejamento de comunicação com esses stakeholders, definindo as melhores ferramentas a serem implantadas. 

Ferramentas que estabelecem uma boa relação com a comunidade 

Entre essas ferramentas que ajudam a estabelecer uma boa relação com as comunidades, podemos mencionar o trabalho voluntário corporativo dentro dessas comunidades; a realização de oficinas de capacitação para geração de renda ou até mesmo formação empreendedora para os microempresários locais; assim como a criação de comitês comunitários, com a finalidade de discutir questões relevantes. 

Nesses espaços, as trocas com a comunidade permitem não só ouvir as demandas que esse público tem, mas registrar suas queixas e insatisfações, ajudando a direcionar melhor as ações de responsabilidade social corporativa. 

Também como parte dessa construção de um relacionamento sólido com as comunidades, outra estratégia pode ser a utilização de ferramentas de comunicação. Jornais comunitários, programas de rádio, entre outras alternativas, são fonte de informação e conhecimento para os moradores e ajudam a estreitar o relacionamento com a comunidade, fomentando a participação em questões de interesse local. 

Ao focar esforços na gestão de relacionamento com as comunidades, é importante, ainda, considerar indicadores de execução dos programas e projetos, que possam mensurar qual foi a transformação real que aquele investimento ou ação levou para o território. Esses indicadores devem estar conectados aos valores e à cultura empresarial, de modo que gerem valor para toda a cadeia do negócio. 

Quando trabalha em conjunto com a comunidade, uma organização pode ser agente de mobilização, somando forças para a transformação social e econômica da região. 

Relações fortes entre empresas e comunidades

Investir em ações que permitam estreitar o relacionamento com a comunidade não contribui apenas para melhorar a imagem da empresa, mas também estimula o desenvolvimento do negócio todo e, de quebra, gera impacto positivo para a comunidade. Quando uma empresa é capaz de compreender as preocupações das comunidades em que opera, possui maiores chances de construir relações positivas com os membros dessas comunidades. 

Vale lembrar que o apoio desses stakeholders é muitas vezes fundamental para o sucesso do empreendimento, uma vez que as decisões de uma empresa afetam e são afetadas por problemas e preocupações locais. Por outro lado, quando uma empresa não é capaz de reconhecer um conflito social, pode colocar em risco toda a sua estratégia e até mesmo a continuidade do negócio. 

Relações fortes entre empresas e comunidades – por meio de acordos informais, ações de responsabilidade social da empresa e outros contratos – podem ser uma rota para maximizar as oportunidades para as comunidades locais. 

Ao mesmo tempo, podem garantir às empresas o fornecimento de produtos a custos competitivos e, simultaneamente, responder às crescentes pressões por práticas de negócios social e ambientalmente responsáveis.