Saudades do bate-papo? Nova rede social Clubhouse aposta nas conversas por voz

Manda áudio… manda áudio!!! Quem nunca recebeu esse meme sonoro no WhatsApp? Por trás da brincadeira existe uma questão comportamental e talvez cultural. 

No atual momento que vivemos, com dias extremamente atribulados, para muita gente é cada vez mais raro ter tempo para ler e escrever (infelizmente). As pessoas estão ocupadas demais para consumir informação de forma adequada e até para interagir nas redes sociais. Este fenômeno pode justificar parte do exponencial crescimento dos podcasts e outros conteúdos em formato de áudio, como os audiolivros. 

A possibilidade oferecida pelo áudio de acompanhar uma conversa, uma palestra, uma entrevista ou ter acesso a uma determinada informação, sem ter que parar o que se está fazendo (dirigir, comer, arrumar a casa, lavar a louça, se exercitar), não é algo novo, mas, mais do que nunca, se tornou uma necessidade. É bem verdade que o Rádio tem ou já teve este papel, mas com recursos de interação consideravelmente limitados.

Outro dia li no portal Resultados Digitais que o conteúdo de áudio tem uma vantagem distinta sobre os outros formatos. Ele é “livre de olhos”.

E foi de olho, ou melhor, de ouvido nesta característica que surgiu o Clubhouse, uma rede social baseada exclusivamente em conversas ao vivo que acontecem em salas temáticas, que muito lembram aquelas salas de bate-papo da internet ou as comunidades do Orkut, só que ao invés de teclar, você deve ouvir e falar. Não há espaço para textos, fotos, vídeos ou figurinhas. É tudo em tempo real e sem recursos de registro ou gravação.

Plataforma é baseada em conteúdo de áudio, ao vivo

O conceito do Clubhouse é simples: a pessoa cria uma sala de conversa sobre determinado assunto e qualquer usuário da rede pode entrar para acompanhar e até participar pedindo autorização aos mediadores. São espécies de reuniões ou conferências que podem ser sobre qualquer coisa: Big Brother, o futuro do rock ‘n’ roll, Marketing Digital ou uma mesa de mercado financeiro. 

Podemos até fazer uma associação das salas com emissoras ou programas de rádio. Você escolhe o tema que lhe interessa e simplesmente sintoniza, quer dizer, entra e participa!

O Clubhouse foi criado por um ex-funcionário do Google em parceria com um empresário do Vale do Silício. Quando a nova rede surgiu, nos Estados Unidos, em abril de 2020, fez um certo barulho, mas logo esfriou. Nas últimas semanas se tornou um fenômeno, que pode ser explicado pela participação de personalidades como Elon Musk, Mark Zuckeberg, Oprah Winfrey e Ashton Kutcher. Influenciadores, artistas e celebridades do Brasil também estão por lá, é o caso do diretor de TV Boninho, o ex-técnico Bernardinho, a cantora Pitty e muitos outros.

Em janeiro deste ano, o valor de mercado da startup chegou a US$ 1 bilhão diante do investimento de US$ 100 milhões feito em uma rodada liderada pela empresa de capital de risco Andreessen Horowitz. 

Outra explicação para o monstruoso crescimento do Clubhouse pode ser o momento de sua chegada ao mercado, durante uma pandemia que provou um isolamento social sem precedentes. As pessoas estão sentindo falta daquelas conversas espontâneas, reuniões, encontros, bate-papos e da troca de informação.

Além de tudo isso, há também uma sensação de proximidade maior e até de pertencimento provocada pela dinâmica da participação oferecida pela rede, por meio de conversas e interações ao vivo.

Apesar da euforia com a rede, que ainda está em fase de ajustes, existem alguns pontos de atenção:

  1. Só pode participar quem tem iPhone (há apenas a versão do aplicativo para sistema iOS);
  2. Só é possível entrar por convite de alguém que já está usando o Clubhouse;
  3. Não existe acessibilidade (por enquanto) para pessoas com deficiência auditiva;
  4. O excesso de poder dos moderadores nas salas, pois eles decidem quem pode e quem não pode ter acesso ao microfone para se pronunciar;
  5. Dúvidas quanto a qualidade da curadoria das salas e do próprio conteúdo discutido;
  6. Assim como outras redes, ela pode aumentar a incidência de FOMO (fear of missing out), o medo de estar perdendo algo. Aquela sensação de que coisas importantes estão acontecendo e você não está acompanhando porque está desconectado.

Alguns pontos positivos:

  1. É mais um importante canal de networking;
  2. Proporciona conexão, proximidade e pertencimento;
  3. É uma rede democrática, mas também valoriza quem realmente tem um conteúdo relevante;
  4. Exige uma boa comunicação do participante, já que é necessário saber escutar mais do que falar, e quando receber a palavra, ser objetivo, crítico, apresentar ideias claras e um pensamento estruturado.
  5. O Clubhouse pode ser usado de forma estratégica por marcas e empresas que encontram ali um ambiente propício para disseminar conteúdo adequado e promover debates interessantes.